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A TROCA

  • Foto do escritor: Rita Escórcio
    Rita Escórcio
  • 28 de abr.
  • 2 min de leitura

A TROCA

 

Eu preciso ler várias vezes o que você escreveu para provocar o meu choro. Quero chorar e vou chorar todas as vezes que eu ler o que você mandou para mim. O que vi foi um apagar de esperança. Foi extirpar todo o sequenciamento que eu planejava. Não te digo que você foi cruel; foi apenas desumano comigo. Quis me punir. Se bem que não aceitei isso como punição. Foi apenas a única opção que você tinha; visto que ter uma certeza e esperar o improvável, a maioria das pessoas opta pelo que é mais fácil, mais palpável, mais o que está ao alcance da mão. Por conta da pressa e das escolhas é que se perde o suprassumo da essência. Com certeza, seu esfregar de corpos terá o que você teve pressa em conseguir. Mas, por outro lado, você deixou de ir para uma dimensão bem além do que seu corpo já conheceu. É indescritível a sensação que você teria se você tivesse tido paciência de aguardar o que meu corpo faria ao teu. Não que essa sensação seja específica de minha pessoa. Diz respeito ao encontro de almas tão propalado e tão difícil de se concretizar. O poeta Drummond fala que durante a jornada existem pedras pelo caminho. No nosso percurso, existiu o que você escreveu. Eu li e foi como tivesse me faltado o chão. Eu estava pavimentando de sonhos nosso juntar de corpos. Apaguei de vez toda história vivida com o outro.  Era um sentir falta de ti toda hora. Era imaginar nós dois. Era sentir que eu também te fazia bem. Em nosso planejar, éramos muito diferentes: você tem pressa; eu, lentidão. Surpreendida, disse a ti que queria ver a razão de meu desencanto. Não quero mais! Acho abjeto todo tipo de comparação. Na troca, você deve ter encontrado mais facilmente o que teu corpo necessita para se manter viril. Desejo que teu desejo se mantenha, pois se tua alma me pertencer, para sempre, para sempre irei te fazer falta. E como precisei chorar a tua falta, nada que você fizer de agora por diante vai fazer meu corpo arder pelo teu como fizera antes de você me magoar com palavras. Continue a manter sua “performance” corporal; nos teus pensamentos, eu vou estar por toda a vida. A pedra no caminho, você a colocou. Em minhas lembranças, vou colocar o teu corpo como prioridade toda vez que eu desejar alguém, já que tua alma para sempre será minha. Eu a roubei em nossos raríssimos encontros que serão revividos por nós, toda vez que a gente lembrar de como teria sido bom ser feliz. Para te esquecer, vou ler e chorar ao pensar em nós. Não é chorar de saudades. É chorar por não ter dado a meu corpo a satisfação de pertencer ao teu. A troca feita por você pode te dar prazer momentâneo, mas delirar, ir para outra dimensão, embelezar nossa alma foi perdido quando você escreveu no intuito de me punir por não fazer o que você mais queria e o que para sempre vou desejar ter feito.

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