
Não é de hoje que muita coisa me intriga. O que não vejo, imagino. Tem certos temas, que ao serem abordados, geram muita discórdia entre crentes e incréus, tipo: vida pós-morte, reencarnação, livre arbítrio, pecado, traição, justiça social etc. Não é fácil e realmente não dá para todo mundo entender o desempenho que cabe a cada um(a), nesta trajetória chamada Vida. Quando se tenta registrar em livros e/ou filmes algumas vivências, muita coisa causa estranhamento. Dias atrás, assisti ao filme O LAGOSTA. Caro leitor, para entender melhor a motivação para escrever este texto, leia atentamente a sinopse do filme a que faço referência: “Em um futuro próximo, uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é imediatamente preso e enviado ao Hotel, um lugar onde terá 45 dias para encontrar um parceiro. Caso não encontrem ninguém, essas pessoas são transformadas no animal de sua preferência e soltas no meio da floresta...” Quando um dos hóspedes chega para fazer o check in, traz um cachorro puxado pela coleira. Alguém pergunta a razão dele estar acompanhado. A resposta foi a de que aquele animal se tratava de um irmão dele que já tinha passado uma temporada no hotel e, infelizmente, não arranjara parceiro(a), sendo, pois, transformado em cachorro a pedido dele. No caso desse novo hóspede, a escolha seria para ser transformado em lagosta, nome que intitula o filme. Pois bem!... Em uma viagem ao litoral e dar uma caminhada matinal à beira-mar, deparei-me com um cachorro muito fofo. Ele veio a meu encontro querendo chamego. Brinquei um pouquinho com ele e dei continuidade a minha caminhada. À noitinha, em casa, fui surpreendida com a chegada de uma visita. Adivinhem de quem... Pasmem! Novamente, o mesmo cachorro! O nosso visitante não era um cachorro de rua, maltratado. Ao contrário, via-se que era muito bem cuidado, parecia bem alimentado, tinha pelo lustroso, boa coleira, além de ser muito, muito manso e dócil. Em meio a muito ruído e tanta gente, ele escolheu ficar perto de mim. Coincidência? Não sei. Estranho, muito estranho. Assim como no filme, nosso visitante foi chamado de LAGOSTA por todos os presentes. A ele foi servido churrasco, só que do lado de fora da casa.
Cientes de que a visita tinha se fartado e ido embora, continuei na nossa “confra”, bebendo, cantando, curtindo o feriadão. De repente, nova surpresa: O LAGOSTA reapareceu entre nós. Mas como??? O portão fora fechado. Alguém deixou o portão aberto? - Ninguém, ninguém. O cãozinho fora novamente alimentado e posto fora de casa. Teimosamente, o animal voltou a estar entre nós. Era a terceira vez. Seria uma visagem ou não? Atônito, o povo da casa ficou à espreita para verificar se tinha alguma brecha para o animalzinho atravessar o muro. Constatou-se que estava tudo certo, sem buracos. Tudo fechado. Era impossível entrar algo sem que se abrisse o portão. Não demorou quase nada para que se esclarecesse o que estava acontecendo. Viu-se que era mal darmos as costas, LAGOSTA alçava voo, atravessava o muro para ficar em nossa companhia.
Gargalhada geral. Estávamos fazendo papel de bobos. Novo dia raiando, cinco da manhã, saí juntamente com o grupo para ver nascer o sol e fazer a caminhada diária. Mais uma vez, tivemos a presença desse ser fantasmagórico. Já não estranhamos mais. Resolvemos aceitar como normal e inexplicável as coincidências que a vida apronta. Resta saber se a Arte imita a Vida ou se a Vida imita a Arte.