Eu te busco incessantemente, não por que tu sejas tão bom, mas é que eu encontro a mim mesma em ti. Reconheço-me metade. É como se me faltasse uma parte e só me completasse em ti. Se você entende de quebra-cabeça, vai entender que nele tem muitas peças tal qual a variedade dos seres humanos. Na hora de encaixar as peças, apenas uma vai se acoplar adequadamente a outra. Assim, somos nós, ou melhor, eu para contigo. Há uma variedade de olhos, mãos e corpos que me desejam. A mesma oferta tu tens. No que diz respeito a mim, tenho recusado experimentar encaixe em peças que não se ajustam tão bem. Para alguns, isso pode ser esperdício, não para mim. Aguardo horas, dias, meses e até ano para que eu me encaixe em ti. Volto a dizer: não por que tu sejas tão bom, mas é que eu encontro em ti a parte que me falta. Nesse meu período de espera, sei que tal qual um louco, tu ficas a procurar por mim em outros corpos que não te completam tão bem como o meu faz. Depois, teu relato de que não valeu a pena é repugnante. Não sei como tens coragem de envolver teu corpo em outros procurando o meu neles. É frustrante. Sem cobranças nem reclamações, se tu, novamente, se achegas a mim, tal qual cão de cara lambida querendo chamegos, eu não os nego a ti. Nosso encaixe é uma perfeição quando as peças se juntam: meu corpo sedento, teu corpo querente. Talvez por isso que me guardo e ainda te espero. Apenas te faço, agora, uma advertência: não te fies muito, pois também tenho minhas tentações. Uma hora qualquer, meu corpo fraqueja. E, numa dessas fraquejadas, posso experimentar um encaixe que seja quase tão perfeito quanto o teu e o que eu pensava ser para a vida toda, torne-se, como, às vezes, tenho te dito: você será para sempre minha melhor saudade.
Rita Escórcio